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Em fase de testes, novo tratamento para lúpus obtém resultados positivos

Anticorpo de origem humana, o anifrolumabe reduziu sintomas da doença autoimune

RIO — Um medicamento experimental contra o lúpus eritematoso sitêmico obteve bom resultado em teste com humanos. Doença autoimune que pode levar à morte, o lúpus atinge cerca de cinco milhões de pessoas no planeta (65 mil no Brasil). O estudo foi destacado na capa da edição desta quinta-feira (16) do “The New England Journal of Medicine” (NEJM), uma das mais conceituadas publicações de medicina do mundo.

No ensaio clínico de fase 3, que avalia eficácia, pacientes que sofriam com sintomas característicos da doença, como manchas avermelhadas em forma de borboleta nas maçãs do rosto, artrite, febre e fadiga, apresentaram melhora após um ano de tratamento à base de anifrolumabe, um anticorpo de origem humana produzido em laboratório.

O estudo foi conduzido por pesquisadores de várias universidades, entre elas a Columbia, nos Estados Unidos, a de Manchester, no Reino Unido, e a de Monash, em Melbourne, na Austrália. O teste clínico teve parte de seus resultados antecipados pela imprensa americana em dezembro.

Dos 180 indivíduos que receberam o anifrolumabe, 47,8% responderam ao tratamento, que age inibindo a produção de interferon I, substância presente em quantidades anormais nos portadores do lúpus. O estudo foi patrocinado pela multinacional farmacêutica AstraZeneca.

O interferon I é uma proteína gerada naturalmente pelo corpo para combater a proliferação de agentes patogênicos. O anifrolumabe se liga ao receptor do interferon, restringindo a presença dele no organismo. Por ser especializado em inibir um agente específico — neste caso, o interferon I —, o anifrolumabe é considerado um anticorpo “monoclonal”, produzido a partir da clonagem de uma única cópia.

Como o lúpus é uma doença com mecanismos patogênicos, que variam de paciente para paciente, aqueles onde o interferon tem papel importante têmmais chance de responder ao anifrolumabe — afirma Luiz Carlos Latorre, que faz parte da Comissão de Lúpus da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).

 

Universo de pacientes

 

A eficácia do anifrolumabe foi posta em dúvida quando uma pesquisa divulgada em novembro de 2019 não registrou resultados animadores após a fase 3 dos testes. Nessa etapa, a medicação é ministrada a um grande grupo de pacientes, e os resultados — baseados na comparação com os outros tratamentos existentes no mercado — determinam se a droga poderá ser comercializada.

Naquela ocasião, os voluntários que receberam placebo apresentaram um nível de resposta superior ao daqueles que tomaram o anifrolumabe.

Já na pesquisa divulgada pela NEJM os pesquisadores repetiram os testes da fase 3, usando um novo ponto de desfecho clínico, ou seja, prazo para a verificação dos efeitos do medicamento. O quadro se inverteu. Entre os 182 que tomaram placebo, a resposta foi de 31,5%, enquanto 47,8% dos medicados apresentaram melhora, resultado que a revista considerou “significativo”.

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Os efeitos positivos se repetiram entre aqueles que apresentavam elevados índices de interferon I no organismo. Nesse grupo, a resposta ao anifrolumabe foi de 48%, e ao placebo, de 30%.

Efeitos adversos levantam preocupação

 

Apesar da perspectiva animadora, os dados da pesquisa levantam preocupação sobre possíves efeitos colaterais. Segundo o artigo, 7,2% dos pacientes que receberam o remédio apresentaram herpes zóster, e 12,2% apresentaram bronquite. Uma pessoa morreu de pneumonia durante o tratamento.

Melhor análise sobre os efeitos adversos relatados deve ser considerada antes da aprovação — comenta Latorre.

Para o médico, ainda não se pode dizer que o anifrolumabe é uma alternativa prática aos tratamentos já existentes. Um grande obstáculo para o uso do remédio em larga escala é o fato de que a doença se manifesta em cada organismo de uma maneira particular. Ou seja, não é sempre que ela tem como consequência a elevação do nível de interferon I no organismo.

Mecanismos múltiplos de patogênese podem ocorrer em um mesmo paciente, dificultando utilização de uma única droga eficaz em todos os casos. É claro que essa via terapêutica tem sua importância, porém mais estudos deverão ser realizados até a sua aprovação. Seguramente, poderá ser uma nova opção terapêutica, mas ainda está longe de ser medicamento utilizável em todos os pacientes — conclui.

 

Fonte: O Globo



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