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Custos de planos de saúde disparam nas empresas

A coparticipação nos planos de saúde — pagamento de um percentual por utilização dos serviços pelos usuários — tem sido uma prática cada vez mais comum e adotada como uma das estratégias para tentar reduzir os custos com saúde nas empresas.

A aplicação de medidas de contenção de gastos das companhias tem elevado a contribuição dos trabalhadores. Esse custo chega a representar 35% da remuneração do indivíduo, dependendo da empresa e do plano de saúde. Levantamento da consultoria Mercer Marsh Benefícios mostra que, em 2015, 51% das companhias adotavam esse modelo. Hoje, o percentual subiu para 74%.

Segundo a pesquisa, o plano de saúde do funcionário já responde pelo segundo maior custo da empresa, só perde para a folha de pagamento. As medidas que mais pesam no bolso dos empregados além da coparticipação, são pagamento de parte da mensalidade e aumento dos gastos com dependentes. Para as empresas, o gasto com planos para funcionários sobe ano a ano e cresceu 10%, saindo de R$ 358,87, em 2018, para R$ 395,18. Em 2012, o custo per capita era de R$ 158,42, uma alta acumulada de 149% nos últimos sete anos.

— Quase 100% das empresas fizeram algum tipo de mudança nos planos de saúde com vistas para redução de custos. Metade redesenhou os programas de benefícios, incluindo coparticipação e franquia, considerados fatores moderadores de uso. Além disso, houve crescimento da parcela que oferece planos básicos, alta na migração de operadoras, mudança de programas de benefícios e aquelas que passaram a cobrar mais dos funcionários. Outras que não cobravam coparticipação em procedimentos passaram a fazê-lo, por exemplo— explica Mariana Dias Lucon, diretora de produtos da Consultoria Mercer Marsh Benefícios.

Para especialistas,é preciso regulamentar os planos coletivos, especialmente do reajuste:

— Os contratos empresariais são um tipo de contrato que não tem reajustes regulamentado pela ANS. Eles dominam o mercado e carecem de regulação. Algumas empresas até podem conseguir negociar mas no fim das contas sobrecarrega o consumidor final, seja com coparticipação, aumentos que vão afetar a política de custeio dos dependentes entre outros — ressalta o advogado Rafael Robba, especialista em direito à saúde do escritório Vilhena Silva Advogados.

A ANS informou que está atenta ao tema e que incluiu a discussão na agenda regulatória 2019-2021. A agência diz ainda que aumentou a transparência dos cálculos dos reajustes com uma regra de transparência que obriga as operadoras a disponibilizarem os critérios técnicos adotados para o reajuste.

Ações complementares

Além de redesenhar o plano de saúde, as empresas também têm buscado implementar programas de promoção em saúde. A companhia Fresenius Medical Care, fornecedora de produtos e serviços para pessoas com doenças renais, implantou uma série de atividades de acompanhamento da saúde dos funcionários. Cinco anos depois das primeiras atividades, a empresa vem reduzindo a chamada sinistralidade, ou seja, o índice de utilização do plano.

— São diversas ações com mais de 250 funcionários beneficiados. Cerca de 300 quilos perdidos pelos empregados, mais de 70 pessoas saíram da área de risco cardiovascular. Na mesa de negociação do reajuste com a operadora, a promoção em saúde pesa positivamente — explica a gerente de desenvolvimento, Daniela Dantas.

‘Médico não pode ser carimbador de exame’, afirma Ricardo Ramos, Conselheiro da Asap (Aliança para Saúde Populacional)

O plano de saúde precifica o custo do benefício de acordo com o risco instalado na empresa e calcula o reajuste com base também na sinistralidade, ou seja, utilização do plano pelos funcionários. É preciso entender a gestão do risco da minha população e implementar ações preventivas. Se tem uma bala de prata é a união entre a medicina ocupacional e a assistencial. O médico da empresa não pode ser mais um carimbador de exame anual.

Entrevista: Carlos Ocké, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)

Qual é a saída para a redução dos custos?

É preciso regular os planos coletivos, inclusive os reajuste, e fazer com que empregadores e empregados tenham capacidade de discutir o preço, a capacidade e cobertura do plano, além da rede credenciada. Você tem um mercado com uma crescente evolução dos preços, muito acima da inflação.

Qual é o cenário que as empresas e os funcionários enfrentam hoje para renovação dos contratos de planos de saúde?

Havia a tese de que os planos individuais tinham que ter seu reajuste regulamentado pela ANS e que as empresas não porque teriam poder de barganha contra os planos de saúde, mas o que observamos não é isso. Em um mercado extremamente concentrado, pouquíssimas são as empresas que conseguem negociar os reajustes e as condições dos planos. nem empregador, nem empregado tem condição efetiva de barganha. os planos perderam clientes, quase quatro milhões nos últimos anos, mas conseguiram reduzir a sinistralidade e aumentar o lucro líquido. É uma situação preocupante porque as pessoas estão perdendo o acesso aos planos.

Como o cenário de benefícios deve ficar a partir de agora com aumento dos custos?

A tendência é expulsar a clientela que não pode pagar, incluindo as pessoas que mais precisam, independente de estarem desempregadas. Nos contratos coletivos, as operadoras podem rescindir os contratos unilateralmente quando aumenta a sinistralidade.

 

Fonte: Jornal Extra – Pollyanna Brêtas



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